Comunicação

“Eu tenho a força!”

 

“Eu tenho a força!”

 

por Flaviane Montes *

 

Há muito tempo não tinha a oportunidade de fazer uma criança dormir em minha casa. Meu único filho é um jovem adulto e não mora mais conosco... Assim, contento-me em aguardar o dia em que será possível ter meu netinho ocupando seu quarto em minha casa para então poder viver a experiência de cuidar mais de perto de uma criança, e fazê-la dormir, como acontecia com meu filhote.

 

Em uma das noites do feriado de carnaval tive a chance de brincar de acampamento montando uma grande cabana de lençol na sala, de dançar e cantar como a princesa Elsa, de experimentar sopas mágicas que sempre tinham algo a melhorar (enquanto os cozinheiros, eu e o tio “Fael”, terminávamos o jantar), de ajudar no banho e na troca de roupas a uma criança. Ao vir para minha casa, pela primeira vez, para dormir, minha sobrinha de 4 anos, me trouxe sua alegria contagiante, sua perspicácia nas perguntas e na argumentação para suas escolhas, além de me encantar com o nosso momento de leitura antes de dormir. É esse breve momento que quero compartilhar com vocês.

Nonora, como carinhosamente eu a chamo, é uma criança semelhante à maioria das que nós conhecemos. Além de todas as fantasias que as brincadeiras e os brinquedos podem lhe proporcionar, também gosta do que a TV e os desenhos animados trazem em suas cores e sons. Ama ser ofertada a um celular para acessar (sozinha!) os vídeos que muitos de nós, adultos sem filhos pequenos, nem imaginamos que existem. Memoriza facilmente os bordões, as canções e as falas dos personagens, sejam eles adequados ou não.

Na noite em questão, Nonora estava bastante cansada de um dia de muita diversão. Após o jantar, o banho quentinho, de ser besuntada de creme perfumado e de vestir sua camisola de Moana, essa mocinha deitou-se na cama preparada para uma noite agradável e revelou com seus olhos arregalados e um sussurro, sentir medo da noite. Dizia que vampiros e bruxas poderiam aparecer, mas... que ela os enfrentaria, mataria a todos e mostraria o quanto é forte (daí fazia o gesto com os braços para mostrar que tem músculos e, por isso, tem muita força!).

Fiquei feliz por ver que, mesmo tão pequena, Nonora se sentia empoderada para lutar contra o que lhe pudesse fazer mal. “Ou então...” pensei por um instante: “Ela não quer que eu me preocupe com ela... Não quer que eu perca o encantamento que sinto por ela ao vê-la tão frágil...”. Entretanto, ela pediu ajuda. Ela compartilhou sua angústia. “Poxa vida”, retomei: “está longe dos pais e do irmão, dormindo, pela primeira vez em minha casa e sente medos. Então, a força tem que estar comigo!” Imediatamente, como que de um salto, peguei um livro que não tinha tido a oportunidade de mostrar-lhe ainda: How do I love you? de Marion Dane Bauer. A personagem, uma menina pequena de cabelos loiros encaracolados, assim como Nonora, é apresentada ao amor por várias metáforas. “Como o sol ama os dias azuis brilhantes, como uma abelha ama a fragrância de uma flor, como um pássaro ama cantar uma canção, como a lua ama cada estrela que brilha no céu...” são algumas das formas de amor apresentadas pelas páginas coloridas do livro.

Ao ler o livro, traduzindo seu texto para português e apresentando as ilustrações, senti que minha pequena se aninhava ainda mais próxima a mim, sorria de canto de boca e me fazia perguntas:

__ Essa aí sou eu?! - Foi a melhor delas, quando viu a imagem da personagem pela primeira vez.

Mas ela também disse:

__ Olha, titia, a lua aparece de noite! Então, aí tá de noite, tá escuuuuuro... e ela tá sozinha... .

Eu lhe respondi:

__ Sim, está à noite, tem a lua e muitas estrelas e, veja só, Nonora: ela não está sozinha... Ela tem um coelhinho nos braços. E... veja, ela está sorrindo!

Fechei o livro, pois era a sua última página. Nonora sorriu. Me pediu para cantar para ela e, em menos de um minuto (juro!), ela dormiu.

Olhei para ela, tão pequena e indefesa, cheia de sonhos, de fantasias, de forças, de vida e me alegrei. Por ela e por mim. O curso daquela noite foi alterado. Ela dormiu bem e eu também.

E você, tem tido a chance de ser a força que seu(sua) filho(a), sobrinho(a), neto(a), afilhado(a) precisa? O poder não está em apenas ler um livro para cumprir um ritual, o que não deixa de ter o seu valor, mas sim, no escutar, no olhar, no perceber, no notar e no agir diante de uma situação em que você, caro adulto, pode ser o(a) herói(heroína) de uma criança. A força está em declarar o amor por meio de uma atitude de parar e dar ao outro o que ele(ela) está precisando receber. A força, aliás, está no amor.

Você tem a força!

 

*Flaviane Montes é Educadora, Coordenadora Pedagógica da Equipe de Inglês, Gestora de Desenvolvimento e Currículo da Interamérica Ampliada, Unidade 1, mãe de Felipe Alef, “bobó” (vovó) de Noah (Nonô) e titia de Eleonora (Nonora).


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