O processo educacional em tempos de pandemia
O processo educacional em tempos de pandemia
por Vera Lúcia Wohlgemuth Lobo*
Diferentes olhares aos diferentes atores que compõem o processo educacional, em tempos de pandemia, se fazem necessários, para que o ensino e a aprendizagem se efetivem ao longo deste contexto.
É imprescindível olhar para o estudante enquanto um indivíduo singular que tem sentimentos e emoções que interferem no desenvolvimento cognitivo e na aprendizagem. A ansiedade, o medo, entre outras emoções que brotam neste momento, podem provocar um nível de agitação e desatenção que desorganizam o indivíduo e, consequentemente, impedem que haja foco na realização das atividades escolares e no estudo diário.
Manter a atenção durante as aulas on-line exige um esforço muito maior que o necessário para assistir às aulas presenciais. Além disso, as telas oferecem distratores, como os jogos, que são facilmente acessados por alguns estudantes. Elas, que antes eram ambientes de jogos e bate-papo, agora cumprem um novo papel: são as salas de aulas virtuais. Aprender as regras e limites deste novo espaço é uma nova tarefa a ser desenvolvida.
Ao observar pelo viés das famílias pode-se afirmar que a demanda de atividades aumentou consideravelmente, uma vez que, além de acompanhar os deveres e estudos em casa que já existiam antes da pandemia, precisam, agora, monitorar o acompanhamento diário das aulas remotas. Tudo acontecendo simultaneamente: o trabalho num regime de home office ou não, associados ao acompanhamento dos filhos que estão em casa assistindo aula e solicitando atenção, por fim, tempos e espaços estão confusos e a sobrecarga manifesta-se num formato de irritação.
Quanto aos professores, eles precisaram se reinventar para conseguirem ensinar e atender às necessidades de atenção dos estudantes presenciais e dos estudantes que acompanham remotamente as aulas. Neste processo, sentem-se pressionados, pois nem sempre conseguem, no espaço de uma aula, ouvir a todos, o que, como efeito, deixa algum aluno e a respectiva família frustrados, suscitando tensões entre as partes, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Promover a acessibilidade do conhecimento aos diferentes estudantes, com seus diferentes ritmos e modalidades de aprendizagem, nos dois espaços e, ainda, ensinar o (a) estudante a esperar e a lidar com a diversidade de ritmos dentro de uma sala de aula, dividida em presencial e remota tem sido uma tarefa hercúlea.
Vejam, por este pequeno recorte, a complexidade do processo: ensinar, aprender, relacionar-se e administrar os conflitos e tensões que nascem neste contexto tem exigido empenho de todos os atores envolvidos! Estudantes, pais, mães, professores e demais profissionais da comunidade escolar clamam por um olhar cauteloso e empático.
A tolerância está no limite. Surgem inúmeras cobranças, buscam-se respostas imediatas. Alguns não suportam o tempo da espera e os filtros emocionais estão obstruindo a capacidade de raciocínio. Isto posto, testemunhamos ações impulsivas e pouco reflexivas. Cabe-nos perguntar sobre o que fazer frente a este contexto tão delicado e incerto para ponderarmos sobre ações que irão contribuir atenuando o estresse e melhorando a qualidade do ensino e da aprendizagem.
Dialogar e exercitar a capacidade de ampliar a compreensão e de colocar-se no lugar do outro é fundamental. Quanto mais a diversidade de pontos de vista é percebida, e quanto mais entende-se que toda a sociedade está vivendo restrições e se desdobrando, maior é a probabilidade do surgimento de sentimentos empáticos e, portanto, a possibilidade de trocas construtivas em prol do desenvolvimento de todos.
É crucial fortalecer a parceria entre escola e família a favor de um trabalho colaborativo e complementar. Para isso, os papeis devem ficar bem definidos e os espaços da sala de aula e da casa devem ser respeitados. A busca por um diálogo aberto e gentil nos momentos adequados favorece o bom desempenho dos estudantes, dos professores e da família.
É interessante também que a escola oportunize horários de aulas para os estudantes simbolizarem os diferentes sentimentos oriundos deste contexto, valorizando, assim, a potência das atividades de expressão oral (rodas reflexivas), expressão artística (desenho, pintura, escultura...) rodas literárias, expressão teatral ou musical. Estas são atividades ancestrais, que sempre estiveram presentes na história da espécie humana, e se mostram como instrumentos potentes que auxiliam a organização dos pensamentos, das emoções e dos sentimentos dos indivíduos.
Finalizo esta reflexão ressaltando a importância de nos abrirmos para uma escuta ativa, em que haja a oportunidade para que todos falem sobre as alegrias, as tristezas, os medos, as angústias. Momentos que promovam mais entendimentos sobre os sentimentos comuns a todos e que (co)movam e unam as pessoas num grande elo solidário e generoso consigo próprio e com o outro.
É fato de que nada substitui esse espaço que é primordial para o desenvolvimento do ser humano integral. Espaço esse que se perpetua ao longo de séculos. Que possamos valorizar cada vez mais a instituição escola!
Temos ciência que, para um melhor desempenho acadêmico em períodos como este, é necessário que se façam movimentos de acolhimento, escuta, envolvimento, parceria, colaboração e empatia. Assim, conseguiremos abaixar os filtros emocionais que impedem o indivíduo de acessar a razão e desenvolver a cognição em benefício de uma aprendizagem significativa em todas as áreas do conhecimento humano.
*Vera Lúcia Wohlgemuth Lobo – Diretora Pedagógica